Sonhei tanto contigo
(Poema de Robert Desnos. Tradução de Jorge Lúcio de Campos) Sonhei tanto contigo que tu perdes tua realidade. É ainda tempo de alcançar este corpo vivo e de beijar sobre esta boca o nascimento da voz que me é cara? Sonhei tanto contigo que meus braços habituados abraçando tua sombra à se cruzar sobre meu peito não dobrariam a contorno de teu corpo, talvez. E que, diante da aparência real do que me ocupa e me governa há dias e anos tornar-me-ei uma sombra sem dúvida. Ó balanças sentimentais. Sonhei tanto contigo que não é mais tempo sem dúvida que eu desperte. Durmo ereto, o corpo exposto a todas as aparências da vida e do amor e tu, a única que conta hoje para mim, eu poderia menos tocar tua fronte e teus lábios que os primeiros lábios e a primeira fronte que vieram. Sonhei tanto, caminhei tanto, falei, deitei com teu fantasma que não me resta mais talvez, e entretanto, senão ser fantasma entre os fantasmas e mais sombra cem vezes